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Em 31 de outubro de 2008, às 19h10, horário francês, uma pessoa que se chama Satoshi Nakamoto postou Um e-mail em uma lista de e-mails dedicada à criptografia. O assunto deste e-mail é:” Papel de dinheiro eletrônico Bitcoin P2P ”. Esta mensagem começa com a agora famosa frase:” Eu trabalhei em um novo sistema de pagamento eletrônico que era totalmente peer-to-peer, sem um terceiro confiável. ” (tradução francesa). Neste e-mail, segue uma breve descrição de algumas das propriedades do protocolo Bitcoin, bem como um resumo das Livro branco, um documento científico que descreve seus princípios fundamentais.
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Crédito: https://www.metzdowd.com/pipermail/cryptography/2008-October/014810.html
Depois desse evento histórico, não foi mais possível voltar atrás. Mesmo que o lançamento efetivo da rede ocorra apenas em 3 de janeiro de 2009, o funcionamento necessário para criar um protocolo monetário ponto a ponto já foi revelado em plena luz do dia.
Em retrospectiva, podemos nos perguntar legitimamente o que motivou a criação de um sistema monetário peer-to-peer, como o Bitcoin. É isso que vamos estudar neste artigo.
Em primeiro lugar, lembremos que a ideia de desenvolver um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer é muito mais antiga do que o Bitcoin. Este último é o resultado de vários estudos de pesquisa criptográfica. Além disso, a criação do Bitcoin não é um evento isolado. Pelo contrário, faz parte de uma linha de tentativas de criar dinheiro eletrônico sem um terceiro confiável.
A criptografia desempenhou um papel importante nesta pesquisa. Já no final da década de 1970, os avanços na criptografia assimétrica, em particular com a invenção dos primeiros algoritmos de criptografia de chave pública, permitiram o desenvolvimento de trocas seguras em redes públicas. Em 1976, o algoritmo Diffie-Hellman foi publicado. Em seguida, ocorreu a invenção da RSA no ano seguinte e da Merkle-Hellman em 1978.
Ao contrário de outros aplicativos de criptografia, a moeda digital descentralizada demorou muito mais para surgir. No entanto, a ideia existe desde o início da década de 1980. Em 1982, David Chaum projetou o eCash, o primeiro sistema de dinheiro eletrônico anônimo. O objetivo desse protocolo era reproduzir as propriedades do dinheiro em mídia eletrônica. No entanto, ainda exigia o envolvimento de terceiros confiáveis, como bancos.
Outras soluções vieram depois. Entre os mais notáveis estava o b-money, de Wei Dai, um sistema proposto em 1998, citado como referência no Livro Branco de Satoshi. Eu também poderia mencionar o RPOW, criado por Hal Finney em 2004, ou, claro, o BitGold, projetado por Nick Szabo em 2005. Esses sistemas tiveram a ideia de interpretar a solução para um problema criptográfico (ou seja, prova de trabalho) como um objeto ao qual poderia ser atribuído um valor monetário.
➤ Saiba mais sobre a prova de trabalho (PoW).
Mas essas soluções ainda não tinham todo o funcionamento necessário para criar um verdadeiro sistema de dinheiro eletrônico descentralizado. Os principais obstáculos encontrados nesta pesquisa foram a descentralização do sistema, a prevenção de gastos duplos e, acima de tudo, a resistência aos ataques de Sybil. O protocolo Bitcoin resolveu todos esses problemas, permitindo pela primeira vez o estabelecimento de um sistema de caixa eletrônico totalmente peer-to-peer.
O Bitcoin é, portanto, o resultado de todos esses experimentos. O trabalho de Satoshi é baseado em bases que foram gradualmente estabelecidas desde a década de 1980 para o dinheiro eletrônico e, desde a década de 1970, para a criptografia de chave pública.
Mesmo que não se conheça a identidade de Satoshi Nakamoto, pode-se reconhecer que na criação do Bitcoin, assim como na pesquisa que o precede, existe um pensamento cypherpunk. Esse coletivo de ativistas, desenvolvedores e, especialmente, criptógrafos, desempenhou um papel na formação das ideias que eventualmente tomariam forma com o Bitcoin.
Um dos principais documentos que moldaram esse pensamento é O Manifesto Cypherpunk, escrito por Eric Hughes em 1993. Este documento enfoca a importância da privacidade como um direito fundamental em uma sociedade aberta na era eletrônica. Os Cypherpunks acreditam que a única maneira de fazer valer esse direito é usando métodos criptográficos robustos. Esse ideal está profundamente enraizado na filosofia do Bitcoin e de sua comunidade.
O esforço dos Cypherpunks de desenvolver um sistema de dinheiro eletrônico foi motivado pela desconfiança em relação aos sistemas financeiros centralizados e pelo desejo de reduzir o controle governamental sobre transações individuais. Eles estavam preocupados com a forma como essas entidades poderiam usar dados de transações para monitorar e controlar indivíduos. Os cypherpunks também reconheceram que os sistemas monetários tradicionais eram vulneráveis à censura e manipulação.
Eric Hughes mencionou esse sistema de dinheiro eletrônico já em 1993 em seu manifesto:
Defendemos nossa privacidade com criptografia, com sistemas de transferência de e-mail anônimos, com assinaturas digitais e com dinheiro eletrônico.
O Bitcoin responde às motivações do movimento cypherpunk. É um sistema monetário que escapa à supervisão e ao controle de instituições financeiras e estados. É uma rede de pagamento ponto a ponto que, se bem usada, pode ser confidencial e resistente à censura. Finalmente, a governança de seu protocolo e a gestão de sua oferta monetária não podem ser alteradas arbitrariamente, ao contrário de outros sistemas monetários atuais.
Em última análise, a criação do Bitcoin pode ser vista como a implementação das metas que o movimento cypherpunk defendeu por décadas. O Bitcoin é uma resposta aos apelos pela defesa da privacidade, liberdade e soberania individual em face de um mundo cada vez mais interconectado, mas também sujeito à vigilância e controle do governo. Basicamente, representa uma ferramenta para a liberação financeira, baseada no pensamento cypherpunk.
Em Um artigo anterior, já lhe forneci uma análise dos conceitos mencionados no Livro Branco. Mas além desses recursos técnicos, este documento publicado por Satoshi também está cheio de explicações sobre o que motivou a criação do Bitcoin.
Na versão de 31 de outubro de 2008, da primeira frase, Satoshi enfatiza a necessidade de um sistema monetário peer-to-peer para evitar, em sua opinião, o “ônus” de ter que passar por uma instituição financeira.
📌 Você sabia disso? A versão do Livro Branco lançada hoje data apenas de março de 2009 e não é idêntica ao documento original. É uma versão ligeiramente modificada do primeiro artigo publicado em outubro de 2008.
Na introdução, Satoshi Nakamoto critica os custos e a necessidade de confiança que as transações financeiras tradicionais exigem. Ele nos explica que essa confiança e esses custos são eliminados quando se trata de dinheiro, mas, infelizmente, esse método de pagamento não é adequado para o comércio pela Internet.
No final da introdução, ele nos explica que a necessidade que o Bitcoin atende é a de ter um sistema de pagamento baseado em evidências criptográficas, e não na confiança nas instituições financeiras. Essa necessidade de confiança inclui os riscos de censura, violação da privacidade individual e diluição arbitrária do valor da moeda pelos estados. Nessas poucas frases, encontramos os fundamentos ideológicos do movimento cypherpunk.
O Bitcoin é o resultado de uma pesquisa iniciada na década de 1980 sobre sistemas de pagamento eletrônico descentralizados e anônimos. Todos esses testes foram possíveis graças aos rápidos avanços feitos na criptografia assimétrica a partir da década de 1970.
Faz parte da ideologia cypherpunk. Esse pensamento defende o uso da criptografia para fazer valer o direito fundamental à privacidade e garantir as liberdades individuais em face da vigilância e controle do governo.
Finalmente, se estudarmos as explicações do Livro Branco de Satoshi Nakamoto, descobriremos que o Bitcoin aspira a aniquilar a necessidade de confiança em nossas trocas monetárias. Essa necessidade traz consigo sua parcela de riscos para a privacidade do usuário, para a livre circulação de capital e, acima de tudo, para manter o valor do dinheiro em face da impressão de dinheiro pelos bancos centrais. É por isso que o Bitcoin foi criado.
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